Há 135 anos nascia um dos grandes ícones de nossa história regional. Nosso papel é relembrar todos aqueles que ajudaram na construção das nossas sociedades, afinal sabemos que somos frutos de uma rede de momentos históricos e herdeiros da história.
A história de Itaguara, Crucilândia e Itaúna são muito próximas - disso já sabemos. Mas algumas personagens digamos emblemáticas, aproximaram ainda mais as nossas histórias. As três cidades beneficiaram-se da trajetória de Artur Vilaça e se orgulham de sua profícua existência. A seguir, compartilhamos texto de autoria do saudoso amigo e intelectual itaunense Guaracy de Castro Nogueira:
Prefeito itaunense e grande benemérito
Conhecido como Coronel Arthur Contagem Vilaça. Não o considero “coronel” segundo a antiga versão política, pois foi um inovador. Nesta biografia, pretendo dar-lhe o verdadeiro reconhecimento, já que temos uma perspectiva histórica para julgá-lo, longe das paixões políticas e daqueles que teceram comentários sobre sua presença marcante em nossa cidade. Quero de início, relatar um episódio raro de sua conduta, como líder autêntico.
Desde 1922, o Brasil vinha sendo sacudido por um verdadeiro frenesi revolucionário. Em Minas, Antônio Carlos estabeleceu o voto secreto, fundou a Universidade e liderou um grande movimento de renovação. Em Itaúna, os políticos tradicionais apoiavam o presidente Washington Luiz, saudado na convenção que o elegeu pelo brilhante deputado federal por Minas, o itaunense Dr. Mário Matos. A política do coronelismo oficial, em 1929, já havia escolhido, como candidato e futuro presidente, Júlio Prestes, que vinha fazendo boa administração em São Paulo, apoiado pelos governadores de 17 Estados. Antônio Carlos articulou a candidatura de Getúlio Vargas, tendo como seu companheiro de chapa João Pessoa, presidente da Paraíba. Surgiu a Aliança Liberal com o triângulo Minas, Rio Grande e Paraíba, para enfrentar o governo federal e os outros estados. Como de costume, os coronéis fraudaram a eleição em favor do candidato oficial. Aconteceu a Revolução de 1930. Em Belo Horizonte o 12.º R.I., depois de vários dias de luta, rendeu-se à Polícia Mineira.
Em Itaúna, Arthur Vilaça ficou ao lado das forças revolucionárias, organizou com jovens políticos locais, ente eles o Dr. Lima Coutinho, Juca Santos e Dr. Hely Nogueira, um pelotão para combater as forças tradicionais da República Velha. Minas colocou-se de pé. Surgiram a “Coluna Libertadora”, os Batalhões “Antônio Carlos”, “Olegário Maciel”, “Raul Soares”, “Mario Brant” e “Artur Bernardes”. Vilaça hipotecou apoio a Getúlio Vargas e como ato significativo denominou nossa praça principal de João Pessoa, assassinado em Recife. Em 24 de outubro Washington Luiz foi deposto e a 3 de outubro empossado Getúlio Vargas. Foi o fim do regime instituído em 1891. Registre-se que Artur Vilaça, anteriormente, foi vereador no período de 1.º de maio de 1912 a 1.º de janeiro de 1916 e, depois, Presidente da Câmara e Agente Executivo para o mandato que se iniciou em 17 de maio de 1927, com apoio das forças tradicionais do Partido Republicano Mineiro (nos municípios os nomes dos partidos tinham coloração local), praticamente único partido oficial, que dominava a política itaunense desde os tempos do Dr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira. Nessa legislatura, os demais vereadores do município eram Dr. Mário Matos, Dr. Dario, Dr. Lincoln e Zezé Lima e havia mais quatro vereadores dos distritos.
Com a vitória da Revolução, Olegário Maciel continuou no governo do Estado e nomeou Artur Vilaça como o primeiro Prefeito Municipal com este título. Continuou administrando o município com isenção, dignidade e operosidade, sem usar dos poderes que tinha nesse período revolucionário, respeitando os direitos inalienáveis de cada cidadão. Os que perderam seu mandato se sentiram traídos; este acontecimento foi um divisor de águas na política local. Vilaça exerceu o mandato por 9 anos, 6 meses e 11 dias; permaneceu no cargo até 28 de janeiro de 1936, quando foi exonerado, a seu pedido, pelo Governador Benedicto Valadares. Getúlio que prometera reconstitucionalizar o país em 1936, implantou o Estado Novo em 1937, governando como ditador. Artur Vilaça, amigo dos antigos membros da Aliança Liberal, os que se tornaram signatários do famoso “Manifesto dos Mineiros”, entre eles Pedro Aleixo, Jonas Barcelos Corrêa, Bueno Brandão, Mário Brant e tantos outros, entrou no partido de oposição, UDN, que provocou a queda do regime e deu uma Constituição Democrática ao País, em 1946.
Artur Vilaça nasceu em Dom Silvério, hoje Crucilândia, na época pertencente a Bonfim, em 20 de agosto de 1885, filho de Henrique Ferreira Vilaça e Francisca Álvares de Abreu e Silva. Estudou no Colégio Dom Bosco, de Cachoeira do Campo e no Colégio Azevedo, de Sabará. Diplomou-se em farmácia pela tradicional Faculdade de Farmácia de Ouro Preto, em 5 de dezembro de 1903. Era descendente da famosa Joaquina de Pompéu, tronco de ilustres personalidades mineiras, sua trisavó. Faleceu em Itaúna, terra que muito amou, em 18 de maio de 1955.
Casou-se, em 30 de maio de 1906, em Itaguara com Maria das Dores de Oliveira Campos, a Dona Dorica. Ao final de suas vidas se tornariam grandes beneméritos em Itaúna e em Itaguara, terra natal de Dorica. No mesmo ano de seu casamento, Vilaça transferiu-se para Itaúna, estabelecendo-se com uma farmácia que dirigiu por mais de vinte anos.
Como Prefeito, Vilaça embasou seus mandatos no trinômio: comunicação, saúde e educação. Concluiu o importante serviço de abastecimento de água potável e a rede de esgotos, iniciados na administração anterior. Introduziu melhoramentos nos serviços telefônicos, bem como investiu na melhoria do aspecto urbano da cidade, com a construção dos jardins do antigo Largo da Matriz, em conformidade com projeto técnico do alemão Steinmetz, inaugurados em outubro de 1929. A conservação e a construção de estradas vicinais, ligando a sede aos povoados do município, mereceram sua especial atenção. Ampliou e reformou escolas.
Em sua administração, em 1928, inaugurou-se a primeira agência bancária em Itaúna, do antigo Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais, vendido ao Nacional. Foi um dos fundadores do Banco Industrial de Minas Gerais, depois vendido ao Banco Mercantil. Instalou uma agência de seu Banco em Itaúna e deu a Crucilândia sua primeira agência bancária.
Foi o Presidente da Sociedade Anônima que construiu o prédio da Escola Normal. Em 1930, graças aos esforços de sua administração, com o apoio do deputado federal Mário Matos, conseguiu sua oficialização. O deputado foi cassado pela Revolução e seu mandato estenderia até 1932. Como Arthur Vilaça apoiou Getúlio, Mário Matos jamais o perdoou, o que motivou a desoficialização da Escola Normal em 1938. “Valadares tinha no seu governo, na Diretoria da Imprensa Oficial do Estado, justamente Mário Matos que, automaticamente, começou a comandar politicamente o Município de Itaúna, bem como a exercer expressiva influência sobre a estratégia governamental praticada por Benedicto Valadares”.
Arthur e Dorica não tiveram filhos, mas dedicaram todo seu afeto à família, amparando sobrinhos e parentes. Criou em sua casa a sobrinha Zoé Vilaça Lara, que se casou com Severino de Paula Lara, de cujo enlace nasceu dois filhos: Artur Lúcio e Magda Lúcia. Artur Lúcio Lara, nascido em 1945, casou-se com sua conterrânea Idalina Dornas Diniz Lara, de tradicional família itaunense. Tiveram duas filhas: Tatiana e Larissa, residentes em Bocaiúva. Tatiana casada com Cláudio Antônio Caldeira Meira são os pais de Ana Cláudia e Artur. Idalina ficou viúva em decorrência do trágico acidente de automóvel que vitimou seu marido, ainda jovem, em 1976.
Magda Lúcia Lara Rocha, nascida em Itaúna sob o teto de Arthur Vilaça, em 1943, casou-se com Antônio de Oliveira Rocha Filho. Reside em Brasília, onde é extremamente requisitada pelos seus extraordinários dotes musicais. De seu casamento nasceram três filhos: Carmem Lúcia (falecida); João Paulo Lara Rocha, nascido e residente em Brasília, é analista de sistemas; Arthur Fernando Lara Rocha, itaunense de nascimento, casado com Raquel Montenegro de Oliveira Lara Rocha, residentes em Goiás. Ele é Piloto de Caça, Major-Aviador em Anápolis, onde pilota os velocíssimos “Mirage”; pais do neto de Magda Lúcia Lara Rocha: Arthur Fernando Lara Rocha Filho.
Desde quando chegara a Itaúna, o padre José Ferreira Neto queria instituir uma entidade para o ensino de meninos carentes, a Granja Escola São José. Pediu terras a três prósperos fazendeiros: José de Cerqueira Lima, Astolfo Dornas e Arthur Contagem Vilaça. Somente este anuiu ao seu pedido, disponibilizando-lhe dois alqueires. Mas o padre precisava de cinco e o sonho foi temporariamente adiado.
Antes de falecer, Arthur Vilaça solicitou à esposa, Dorica, que honrasse o seu compromisso com o Pe. José Neto. A generosa viúva, espelhada no exemplo de vida do esposo, foi mais além: doou 13 alqueires de seu melhor terreno e parte de sua fortuna, tornando-se instituidora da Fundação Granja Escola São José. Do gesto inicial de Arthur Vilaça sobrevive hoje a Granja Escola São José, instituição modelar, que acolhe dezenas de jovens estudantes tirados da rua, transformados em homens livres, plenos de cidadania, os líderes de amanhã, na Itaúna de nossos sonhos!
REFERÊNCIAS:Texto: Guaracy de Castro Nogueira (In memoriam)
Pesquisa: Charles Aquino, Patrícia Gonçalves Nogueira.
Organização: Charles Aquino
Acervo: Instituto Cultural Maria Castro Nogueira
Fotografia: Adilson Nogueira
2 comentários:
Alisson.
Estou pesquisando os Villaças para completar minha Árvore Genealógica. E lendo seu artigo sobre o Arthur Contagem Villaça encontrei o registro de batismo. Segue link: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:939N-D7DT-W?from=lynx1UIV8&treeref=9J7B-JY6&i=8
Temos o livro de registros de nossa familia. É sobre a vida de Monoelina do Pompéu. Fica com minha tia , em Bonfim .
Nele conta um pouco da nossa história.
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