É coronavírus pela manhã, Covid-19 à tarde e pandemia à noite. O assunto domina 24 horas por dia das nossas vidas nas últimas semanas. A temática subordina a pauta mundial como nunca antes visto. É verdade que outras pandemias ocorreram no planeta e muito mais letais do que a atual, como, por exemplo, a gripe espanhola que dizimou cerca de 50 milhões de pessoas no início do século passado, tendo entre as suas vítimas fatais mais ilustres o presidente do Brasil, Rodrigues Alves. Outra pandemia, a Peste (como ficou conhecida a pandemia de peste bubônica, na Idade Média), teria provocado a morte de cerca de 100 milhões de pessoas, de acordo com as estimativas mais conservadoras, em meados do século XIV.
Esta pandemia atual, contudo, mesmo possuindo letalidade menor do que as supracitadas, assusta-nos, sobremaneira, porque é a primeira grande pandemia na era da informação e economia globalizadas. Alguns dirão que a H1N1 também assustou no início da década passada. Lembro-me de que estava no primeiro ano como prefeito de Itaguara, quando a pandemia de H1N1 assombrou a humanidade. Fizemos um comitê de enfrentamento à pandemia, reunimos com autoridades sanitárias e adotamos todos os procedimentos orientados pelo Ministério da Saúde (não se cogitou, em momento algum, fechamento de comércio ou isolamentos sociais). Não me lembro se Itaguara registrou algum caso naquela oportunidade, mas consultando os dados oficiais, percebe-se que comparar a Covid-19 com a H1N1 não é adequado. Em apenas três meses, a Organização Mundial de Saúde (OMS) registrou 14.652 casos fatais pela Covid-19, enquanto a pandemia de H1N1, em 16 meses, matou 18.449 pessoas . Somente a Itália, já registrou mais de 11 mil mortes ocasionadas pelo novo coronavírus.
Escrevo em 30 de março e os dados para a Covid-19 para o Brasil são : 4.579 casos confirmados e 159 mortes. No que concerne à taxa de letalidade do novo coronavírus, estima-se que varia de 2% a 3%, enquanto a da H1N1 foi estimada em cerca de 0,02%. Definitivamente, não é razoável comparar esses dois momentos pandêmicos. Estamos, incontestavelmente, vivenciando um momento histórico.
Este jornal, provavelmente, terá em sua capa o coronavírus e trará matérias verdadeiras sobre as consequências para a nossa região. A imprensa, em todo o mundo, tem cumprido o seu importante papel de informar e conscientizar a população neste momento crítico. Tenho lido e visto matérias corretas, mas também presenciei reportagens inverossímeis. Algumas sem qualquer fundamento científico. Pior ainda é observar as redes sociais. De cada 100 postagens que recebo, 95 são Fake News. Pessoas, que neste momento, criam essas notícias falsas deveriam ser presas. Quem as espalha, conscientemente, também deveria responder judicialmente. A imensa maioria, no entanto, apenas as recebe e acaba sendo vítima de mentiras ardilosamente arquitetadas.
Cada vez mais, precisamos de veículos de comunicação sérios e comprometidos com a apuração honesta dos fatos. Infelizmente, grande parte da imprensa, por razões várias, tem perdido a sua credibilidade. Apesar disso, registre-se que recente pesquisa mostra que a população, diante do reinado de Fake News, confia majoritariamente em programas jornalísticos de TV (61%) e nos jornais impressos (56%). Rádio e site de notícias aparecem em seguida, com 50% e 38% de confiança, respectivamente. As redes sociais, WhatsApp e Facebook, estão com baixíssima reputação em meio à crise pandêmica. Apenas 12% das pessoas consultadas confiam nas informações compartilhadas nessas plataformas.
Então, o que devemos fazer diante desse cenário complexo e confuso? Resta-nos assumir uma postura verdadeiramente crítica, pesquisar a fundo, checar as informações em fontes confiáveis, ouvir os especialistas (há boas referências até mesmo nas redes), além de nos atentar aos comunicados da OMS e do Ministério da Saúde. Hora ou outra, o comércio abrirá e nossas vidas voltarão à normalidade. Precisamos, no entanto, continuar vigilantes, evitar contatos físicos até que essa pandemia seja debelada e reforçar, definitivamente, os nossos hábitos de higienização.
No mais, é preciso manter a calma (preservando a nossa saúde mental), agir com absoluta cautela, proteger nossas famílias e nossos idosos e confiar que tudo passará. É momento também de pensarmos na vida que temos levado, o que temos feito de nossa existência, como temos nos relacionado com nossa família, amigos e a sociedade, o quanto temos consumido e quais são os valores que norteiam a nossa vida.
Os italianos são, até agora, o povo mais atingido pela pandemia, mas eles não perderam as esperanças e se mantêm resilientes. Que o lema que mais se vê na península itálica, “Andrà Tutto Bene!” (vai ficar tudo bem), seja capaz de nos tranquilizar a alma e esperançar nossos corações.
Sim, tudo vai ficar bem!
* Alisson Diego Batista Moraes, advogado, MBA em Gestão Empresarial e Bacharel em Filosofia pela UFMG. Foi prefeito de Itaguara entre 2009 e 2016.
** Artigo publicado pelo Jornal Minas, Itaguara, março/abril de 2020.
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