Circuito das Estações 24/11/18 |
Compartilho, a seguir, artigo publicado no Jornal Cidades (edição: dezembro de 2018):
Quando eu falo de corrida *
Já que a principal temática do JC deste mês é saúde e longevidade, fiquei inspirado a escrever sobre uma atividade que mudou a minha perspectiva de vida e me fez um ser humano mais saudável, autoconfiante, disciplinado e melhor: a corrida de rua.
Comecei a praticar caminhadas médias (3 quilômetros ao dia) dos 12 para os 13 anos de idade, por recomendação médica – eu tinha um pequeno problema no joelho (algo decorrente da fase de crescimento juvenil) e estava totalmente proibido de jogar futebol. O ludopédio (é cada nome que inventam para o esporte nacional) era a minha primeira paixão esportiva como tinha que ser – aos 9 anos, vi a seleção de 94 conquistar o tetra e aquilo me deslumbrara como a todos de minha geração. Mas o futebol não era uma opção naquele momento e o médico foi categórico: “Apenas caminhadas e, mesmo assim, leves”.
Das caminhadas “leves” para a corrida foi um pulo. Achava um tanto quanto insosso ficar apenas caminhando, caminhando lentamente vendo as paisagens passarem... A vontade de correr foi um impulso natural. Nessa época, eu era um pré-adolescente gordinho e as corridas também começaram a fazer efeito: fui emagrecendo paulatinamente, ganhando autoconfiança e aumentando as distâncias. As caminhadas leves ficaram para trás e corria 6 km por dia.
Após quase um ano correndo, emagreci suficientemente e, milagrosamente, o meu problema de joelho simplesmente havia desaparecido. Mas, aos poucos, fui deixando de lado as corridas para voltar aos esportes coletivos: futebol, futsal e voleibol.
De volta a Itaguara (após morar uma década fora da cidade com minha família), aos 16 anos idade, a convite dos amigos da Acrita (Associação dos Corredores de Rua de Itaguara), voltei a praticar corrida de rua. Tomás, Reginaldo, Bila, Juarez e os outros corredores eram muito velozes e incentivam os mais guris como eu. Cheguei, naquela época, a conquistar um pódio (terceiro lugar na categoria 16-19 anos) nas célebres corridas na Avenida dos Andradas, em BH, que eram organizadas pelo Ricardinho (o popular Mister Bus) nas manhãs de domingo uma vez por mês. Foi naquele tempo também que corri a minha primeira Volta da Pampulha. Era 2001 e, apesar de correr com um tênis nada propício, completei os 18 km com cerca de 1h25.
Depois veio a faculdade, o trabalho e parei de correr por “imposições do tempo” - uma desculpa super esfarrapada porque quem quer acha tempo para o que realmente importa na vida – os psicólogos explicam muito bem). Fato é que a corrida havia deixado de ser uma prioridade.
Há uns seis anos, voltei a correr disciplinadamente. Tive de emagrecer muito, voltar a pegar o ritmo, re-acostumar o corpo. Agora, tomei uma decisão: Não paro mais de praticar corrida, a menos que alguma imposição natural da vida me impeça. Não é que tenha me tornado esportista profissional, muito longe disso (não dispenso, por exemplo, eventualmente, alguma bebida aos finais de semana), mas a questão fundamental é que a corrida me transformou em uma pessoa muito mais disciplinada, confiante, previdente e sensata.
No ano passado, um fraterno amigo, presenciando o meu entusiasmo existencial pela corrida de rua presenteou-me com um livro que recomendo fortemente a todos aqueles que correm ou desejam correr: “Do que eu falo quando eu falo de corrida”, de Haruki Murakami. O escritor japonês mudou totalmente a sua vida quando começou a correr. E ele já não era jovem! Iniciou com mais de 30 anos de idade e já completou várias maratonas. Hoje, aos 69 anos, o premiado literato ainda corre e muito: cerca de 10 km por dia e vive viajando e participando de provas ao redor do mundo (correu várias maratonas e ultra-maratonas).
Separei duas frases do Murakami, nessa obra literária supra comentada, para inspirar você leitor que, se chegou até aqui, no mínimo, se interessou pelo assunto e pode estar disposto a iniciar neste esporte altamente aprazível e realizador:
* “Não me levem a mal – não sou totalmente anticompetitivo. É apenas que, por algum motivo, nunca me importei muito se derroto os outros ou se perco deles. […] Interesso-me muito mais por atingir os objetivos que fixei para mim mesmo, de modo que, nesse sentido, corridas de longa distância caem como uma luva para uma disposição de espírito como a minha”.
* “Não interessa quanto eu fique velho, mas enquanto eu continuar a viver, vou sempre descobrir alguma coisa nova sobre mim mesmo.” É exatamente o que a corrida fez e faz comigo: a cada dia me entendo e me conheço melhor.”
PS: Ah, um conselho: antes de começar a correr, procure um médico, faça exames regularmente e sempre mantenha esse acompanhamento. Além disso, faça fortalecimento muscular numa academia. É absolutamente essencial.
* Alisson Diego Batista Moraes, 33, advogado, MBA em Gestão de Empresas (FGV) e acadêmico de Filosofia pela UFMG. Foi prefeito de Itaguara entre 2009 e 2016 e, atualmente, é secretário de Planejamento e Governo de Itaúna-MG. É também um entusiasmado corredor amador.
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