Pedalando e driblando preconceitos*
Problema em cidades pequenas e maior ainda nos grandes centros.
Muito se fala à respeito do trânsito, mas muito pouco se faz. Nesta
quinta-feira, dia 25 de setembro, é comemorado o Dia Nacional do Trânsito.
Atitudes simples, como o uso bicicletas, poderiam ajudar a amenizar as
situações negativas, como do trânsito caótico e engarrafamentos, mas poucos
cidadãos se dispõem a deixar o carro na garagem e pedalar até o trabalho. Além
disso, o uso bicicletas, por incrível que parece, ainda enfrenta outro empecilho:
o preconceito.
Alisson Diego Batista
Moraes, 29, é um dos poucos cidadãos, entre a população de cerca de 12 mil
habitantes, na região metropolitana de Belo Horizonte, Itaguara, que vai para o
trabalho de bicicleta. Com o status na rede social de poeta, advogado, MBA em Gestão
Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, o acadêmico de Filosofia da
Universidade Federal de São João del Rei, (UFSJ), enfrenta todos os dias, além
dos obstáculos, o preconceito quanto o uso do meio de transporte no Brasil.
“Desde que aprendi a pedalar,
nunca abandonei a bicicleta. E de lá para cá já se passaram uns 22 anos e ela
se tornou o meu meio de transporte favorito”, declara Alisson que vai e volta
para o trabalho de bicicleta praticamente todos os dias. “E fico cada dia mais
surpreso com as reações desmesuradas das pessoas. Vão desde o espanto, o
respeito, à admiração e à repugnância completa. Esta semana, uma pessoa me
disse: Uai, você está de férias? Respondi sonoramente: NÃO! Então por que a
bicicleta? Estou até agora tentando entender qual foi o raciocínio dessa
curiosa pergunta. Segui pedalando sem responder, com um amarelo sorriso e um
aceno tímido”, conta em texto pessoal na sua página na internet.
Essa situação poderia ser
muito comum, já que o preconceito pela bicicleta percorre por todo o Brasil.
Mas o caso do advogado tem um agravante: o rapaz de 29 anos, poeta assumido,
que vai para o trabalho de bicicleta é o mesmo que a cidade chama de prefeito e
reelegeu nas últimas eleições. Alisson foi vereador há dez anos em Itaguara e
ia para a Câmara de bike, mas declarou já ter aprendido a lidar com o
preconceito. “Quando venci as eleições para vereador, há dez anos, cheguei a
ouvir alguns comentários do tipo: É muito novo e ainda anda de bicicleta.
Sempre relevei esse tipo de fala porque além de ingenuidade, sempre considerei
que essas palavras não traziam em si um “preconceito” propriamente dito”,
ressalta o prefeito que no primeiro mandato chegou a abandonar a bicicleta e
recentemente retomou o habito saudável, exemplar, porém, preconceituoso.
“Uma vez fui abordado
seriamente por três pessoas, que me aguardavam em frente o prédio da Prefeitura
para uma reunião. Disse um deles, sem me esperar descer do veículo: Diego, pare
com isso. Você não pode ficar vindo para a Prefeitura de bicicleta, tem que se
dar ao respeito. Eu não acreditei no que ouvi! Olhei espantado para o sujeito.
Nem consegui responder e ele emendou: Se for preciso mando te buscar todo dia
em casa de carro, porque desse jeito, imagina se vem alguém de fora, um
empresário e te vê assim?”, descreve nervoso no post Alisson, que declara que
poderia ter feito um sermão sobre mobilidade urbana, meio ambiente, esporte ou
discorrer sobre os malefícios dos combustíveis fósseis ou levantar centenas ou
milhares de argumentos, mas que preferiu ficar calado e virar as costas. “Minha
melhor resposta naquele momento foi o meu silêncio e o meu caminhar”, diz o
Prefeito que perde o voto, o colega, mas não abandona a sua companheira
bicicleta.
* postado em 25/09/2014 / Jornal Barroso em Dia - site: http://barrosoemdia.com.br/pedalando-e-driblando-preconceitos/
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