Quase 30
Alisson Diego *
De fato, não faço 30 anos em 2014.
Mas há pouco mais de um ano do famigerado trintenário, deparei-me, inevitavelmente, pensando sobre a idade
e, inspirado num artigo do escritor e jornalista Michael Laub, decidi escrever
sobre o tema.
Fazer 29 anos é...
Fazer 29 anos é...
- Conformar-me com os cabelos brancos (e aceitar que, em bem pouco tempo, eles podem ser maioria – faz parte das tradições genéticas da família).
- Sentir-me verdadeiramente adulto, independente e livre.
- Tentar manter o
idealismo, apesar de tantos motivos para decepção.
- Ter a maioria dos
antigos colegas de escola casados (e as colegas quase todas já com filhos).
- Ter vergonha dos amores
e poemas da adolescência e mais vergonha ainda por tê-los publicado.
- Ainda acreditar na
política, crendo menos nos partidos.
- Não ter vergonha do
passado e temer o futuro.
- Viajar sozinho e
aproveitar a vida.
- Entrar bem menos nas
redes sociais.
- Envergonhar-me por não
ter assistido/lido alguns clássicos do cinema e da literatura.
- Não mais entrar em
discussões levianas por futebol, religião e política.
- Diminuir os copos de
cerveja porque barriga saliente incomoda. Fumar raramente só pra não perder
o costume, e apenas nos acampamentos, para espantar os insetos inconvenientes.
- Comer menos se quiser me
manter frequente nas peladas da turma. Continuar a frequentar, pelo menos duas
vezes por semana, a academia para me esconder do sedentarismo.
- Não precisar fazer mais
tanta média com as pessoas e ser menos polido quando for preciso.
- Dormir menos, comer
menos e ter menos noitadas.
- Comparar-me com o colega
mais jovem que ficou rico e sentir-me meio fracassado.
- Reconsiderar antigas
inimizades.
- Emocionar-me menos com a
morte.
- Continuar amando a literatura e os estudos.
- Continuar amando a literatura e os estudos.
- Criticar menos os
Estados Unidos e repensar os meus conceitos sobre Cuba e o socialismo (na verdade já faço isso desde os 25).
- Deixar a barba
crescer menos porque um ou outro fio cinza espessamente insiste em aparecer precoce.
- Ficar feliz por não ter
entradas de careca (teoria do mal menor: prefiro os cabelos brancos à calvície).
- Afastar-me das
religiões, aproximar-se do humanismo.
- Saber que o MBA não me fez melhor e nem o
mestrado e o doutorado me farão.
- Ouvir menos Los Hermanos
e Raul Seixas. Continuar ouvindo Pink Floyd e Chico Buarque.
- Continuar fã dos
Beatles, mas não mais idolatrar o Paul McCartney.
- Lamentavelmente ou não,
sentir-me mais conhecedor do mundo, não adaptado, mas conscientemente um ser
vivente.
- Continuar sonhando com
coisas e pessoas que incomodam.
- Ter orgulho imenso em
ter todos os avós vivos.
- Ter tristeza por saber que não dei um neto a meu pai e sentir saudade imensurável dele.
- Pensar na possibilidade
de casar e ter filhos.
- Seguir bebendo vinho e apreciando cada dia mais a bebida celestial.
- Constatar que o velho clichê “a vida passa rápido” é uma terrível verdade, apesar de continuar sendo um clichê brega.
- Não ter mais vergonha de
ir ao cinema em estreias de filmes de animação.
- Lamentar até hoje a arbitragem na final do campeonato brasileiro de 99 e a grande fase do goleiro
Dida naqueles dois jogos.
- Ter raiva eterna da atuação do Galo contra o Raja Casablanca.
- Acreditar pacienciosamente no amor, ou viver feliz sem um.
- Projetar-me despretensiosamente sábio na
velhice.
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