quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Quase 30

Meu aniversário é daqui algumas horas. O 29 não bate à porta, já chega invadindo. Abaixo, um texto que escrevi para a ocasião:


Quase 30
Alisson Diego *

De fato, não faço 30 anos em 2014. Mas há pouco mais de um ano do famigerado trintenário, deparei-me, inevitavelmente, pensando sobre a idade e, inspirado num artigo do escritor e jornalista Michael Laub, decidi escrever sobre o tema. 

Fazer 29 anos é...

- Conformar-me com os cabelos brancos (e aceitar que, em bem pouco tempo, eles podem ser maioria – faz parte das tradições genéticas da família).

- Sentir-me verdadeiramente adulto, independente e livre.

- Tentar manter o idealismo, apesar de tantos motivos para decepção.

- Ter a maioria dos antigos colegas de escola casados (e as colegas quase todas já com filhos).

- Ter vergonha dos amores e poemas da adolescência e mais vergonha ainda por tê-los publicado.

- Ainda acreditar na política, crendo menos nos partidos.

- Não ter vergonha do passado e temer o futuro.

- Viajar sozinho e aproveitar a vida.

- Entrar bem menos nas redes sociais.

- Saber que temos mais de nossos pais em nós do que poderíamos pensar.

- Envergonhar-me por não ter assistido/lido alguns clássicos do cinema e da literatura.

- Não mais entrar em discussões levianas por futebol, religião e política.

- Diminuir os copos de cerveja porque barriga saliente incomoda. Fumar raramente só pra não perder o costume, e apenas nos acampamentos, para espantar os insetos inconvenientes.

- Comer menos se quiser me manter frequente nas peladas da turma. Continuar a frequentar, pelo menos duas vezes por semana, a academia para me esconder do sedentarismo.

- Não precisar fazer mais tanta média com as pessoas e ser menos polido quando for preciso.

- Dormir menos, comer menos e ter menos noitadas.

- Comparar-me com o colega mais jovem que ficou rico e sentir-me meio fracassado.

- Reconsiderar antigas inimizades.

- Emocionar-me menos com a morte.

- Continuar amando a literatura e os estudos.

- Criticar menos os Estados Unidos e repensar os meus conceitos sobre Cuba e o socialismo (na verdade já faço isso desde os 25).

- Deixar a barba crescer menos porque um ou outro fio cinza espessamente insiste em aparecer precoce.

- Ficar feliz por não ter entradas de careca (teoria do mal menor: prefiro os cabelos brancos à calvície).

- Afastar-me das religiões, aproximar-se do humanismo.

- Saber que o MBA não me fez melhor e nem o mestrado e o doutorado me farão.

- Ouvir menos Los Hermanos e Raul Seixas. Continuar ouvindo Pink Floyd e Chico Buarque.

- Continuar fã dos Beatles, mas não mais idolatrar o Paul McCartney.

- Lamentavelmente ou não, sentir-me mais conhecedor do mundo, não adaptado, mas conscientemente um ser vivente.

- Continuar sonhando com coisas e pessoas que incomodam.

- Ter orgulho imenso em ter todos os avós vivos.

- Ter tristeza por saber que não dei um neto a meu pai e sentir saudade imensurável dele.

- Pensar na possibilidade de casar e ter filhos.

- Seguir bebendo vinho e apreciando cada dia mais a bebida celestial.


- Constatar que o velho clichê “a vida passa rápido” é uma terrível verdade, apesar de continuar sendo um clichê brega.

- Não ter mais vergonha de ir ao cinema em estreias de filmes de animação.

- Lamentar até hoje a  arbitragem na final do campeonato brasileiro de 99 e a grande fase do goleiro Dida naqueles dois jogos.

- Ter raiva eterna da atuação do Galo contra o Raja Casablanca.

- Acreditar pacienciosamente no amor, ou viver feliz sem um.

- Projetar-me despretensiosamente sábio na velhice.

- No domingo, 02 de março, é meu aniversário. Posso me iludir que estou na melhor fase da vida (pode ser mesmo uma ilusão, ou não, pode ser a verdade) ou esperar para que ela brevemente chegue.


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