MUSA, CONQUISTA CULTURAL
"Para abrir um museu
é preciso ter coragem. Para abrir um museu em Itaguara, mais ainda,
especialmente porque somos uma cidade que ainda não aprendeu a cultivar sua
memória. Digo ‘ainda’, porque tudo pode ser agora diferente.
Os mais velhos
testemunharam ir por terra, uma a uma as referências urbanas da “risonha Nossa
Senhora das Dores da Conquista” como a ela se referia João Dornas Filho, o
historiador de Itaúna. Da maioria delas, só ficou, como de Itabira para o
Poeta, “um retrato na parede”. Algumas se conservam e demandam uma
política de preservação e cuidado, enquanto há tempo.
Quanto a museus,
cada um tem, em seu interior, na solidão de sua memória, o seu próprio e
indevassável. O problema é que este se sepulta com o dono que o construiu. Daí
a necessidade de um museu público. Um lugar que retrate a alma da coletividade
ao recolher amostras significativas de objetos que remetem e fazem reconstruir
a história para que não se reduza a um depósito de lembranças.
Um museu deve ser
um organismo vivo. O Museu Sagarana nasceu, neste ponto, exemplar. Primeiro,
por fazer jus ao nome: ‘Saga’ quer dizer ‘canto heroico’, segundo suas origens
germânicas, e ‘rana’ , sufixo tupi que indica ‘semelhança’. Como organismo
vivo, o MUSA quer ser como uma saga da terra de Nossa Senhora das Dores das
Conquistas.
Diego e D Miguel na inauguração do Musa |
A aparente pobreza
dos objetos ganhou vida pela tenacidade do Administrador Municipal Alison
Diego, alma de poeta, e pelo gênio artístico de Marcelo Costa. Alison deu as
ideias e proporcionou as condições objetivas. Marcelo deu vida ao museu
retirando os objetos de sua aparente insignificância, através do modelo
artístico de uma instalação, alçando-os à categoria de ícones culturais. Estes
trazem em si, sempre o resumo de uma multiplicidade de afetos e tornam-se, no
museu, símbolos. Como Sagarana, que escapou de ser apenas o título de um volume
de contos para se transformar em símbolo do sertão roseano; sertão místico e
interior, mais que lugar geográfico que, por ser universal, pertence igualmente
a todos os homens. Também neste ponto, a disposição dos objetos foi muito
feliz. O memorial de Guimarães Rosa ocupa o centro do prédio como parte de uma
história maior da qual se tornou também uma das personagens principais.
Qual seria, então,
daqui para frente, a vocação do museu de Itaguara?
Fazer do MUSA mais
que um lugar, uma instituição que seja ‘templo das musas’, onde se abrigue a
história viva da comunidade através de uma série de projetos e sonhos:
1. Acervo digital de fotografias e documentos
realtivos a Itaguara;
2. Acervo de entrevistas em vídeo com
personagens importantes da comunidade das mais diversas áreas;
3. Organização de uma “Biblioteca Conquistana”,
onde se recolham recortes de jornais e publicações científicas, literárias e
musicais sobre Itaguara e de seus filhos;
4. Construção de um teatro e uma sala de
exposições temporárias para a valorização de talentos e a divulgação da cultura
local e regional;
5. Ampliação de seu acervo atual.
Quando o MUSA for
sentido pela população como o seu lugar, do cultivo de sua memória e de sua
vida, tudo se fará ao seu tempo.
Os sonhos se
realizam quando sonhados conjuntamente por uma população envolvida com um
projeto cultural de qualidade que contemple não apenas o gosto das massas
iludidas pela manipulação da mídia, mas a construção de sua identidade como
povo. Projeto para mais de um mandato eletivo, projeto para os tempos futuros!
Parabéns à atual
Administração Municipal por este marco mais que importante, necessário.
Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário