Genial, Peculiar: Guimarães Rosa

Após terminar uma releitura de Grande Sertão Veredas, dois anos atrás, escrevi que perto de João Guimarães Rosa, quase todos os escritores são "normais". Pensei, um tempo depois, que talvez tivesse havido um certo hiperbolismo em minha conclusão literária. Contudo, mais uma vez, ao reler Rosa (desta vez uma leitura extremamente atenta de Sagarana), tenho a mesma inequívoca conclusão de outrora. Não é à toa que Guimarães Rosa figura entre os mais geniais escritores do planeta. Em dois únicos adjetivos, pode-se dizer que sua obra é simplesmente fantástica e genial.

Não sou especialista em literatura, mas nem creio que seja necessário sê-lo para constatar a genialidade de João Guimarães Rosa. Os neologismos, as frases rebuscadas, a descrição perfeita, a construção do sertão místico, a complexidade holística das personagens e os enredos peculiares - tudo isso faz de Rosa um escritor único e torna sua obra indispensável na biblioteca da melhor literatura universal.

Sagarana retrata, com ineditismo na literatura brasileira, a pitoresca linguagem regional, a vida no "sertão" e registra "o modo de ser" do mineiro, no limiar do século XX. Com a obra, o contista alcança o reconhecimento de seus pares literatos e o livro passa a ser considerado uma das mais importantes publicações brasileiras até então.

Demorei até conseguir ler e compreender minimamente Guimarães Rosa, isso porque para lê-lo, a atenção precisa ser integral e exige-se do leitor o máximo de interação com o universo proposto pelo autor. Mas quem consegue penetrar no universo roseano, certamente terá a mesma conclusão: Guimarães Rosa é peculiarmente genial.