sexta-feira, 11 de março de 2011

Um propósito e uma paixão

Sabe essas listas que fazemos no final de um ano, propondo-nos inúmeras mudanças para o ano que virá? Para muitas pessoas, os propósitos se eternizam apenas no papel, mas não foi exatamente o que aconteceu comigo.

No final de 2008, propus a mim mesmo melhorar a minha pobre cultura cinematográfica. Não tive qualquer pretensão de tornar-me crítico da sétima arte ou coisa parecida. Queria apenas conhecer com menos simplismo o cinema.

Sempre gostei de filmes, desde criança, mas assistia a um ou dois por mês, no máximo (e mesmo assim de qualidade questionável). Por diversas vezes, encontrava amigos para conversas sobre generalidades, nas quais se discutia cinema e eu precisava ficar calado porque não conhecia minimamente a mídia "criada" pelos irmãos Lumière.

Em 2009, comecei assistindo de tudo, desde os grandes clássicos e cults, passando por documentários, curtas e pelos pops comerciais, chegando até mesmo às animações. Aos poucos fui ficando mais seletivo e cuidadoso na escolha da melhor película. Não me considero ainda um cinéfilo e não tenho quaisquer aspirações filosóficas ou intelectuais ao assistir a um filme, mas procuro tomar bastante cuidado para não banalizar a "telona", conciliando entretenimento, conhecimento e reflexão.

Assisti a 200 filmes de 2009 até hoje. E a média tem aumentado consideravelmente. Se mantiver o ritmo dos últimos meses, no final de 2011 terei assistido a quase 400 filmes ao longo desses três anos. E o melhor: não apenas ampliei a minha modesta cultura cinematográfica, como também pude descobrir uma verdadeira paixão. O cinema me envolve, me fascina, me entretém e me faz pensar.

Li numa revista, num dia desses, que a produção anual de audiovisuais em todo o mundo é de cerca de 20 mil títulos (a grande maioria de filmes). É preciso, portanto, ser muito seletivo, ou então, corre-se o risco de desconstruir uma cultura cinematográfica, ao invés de ampliá-la.

Dizem que a vida imita a arte e, que no cinema, ficção e realidade se misturam. Não percebo o cinema apenas como a arte do real ou como reprodução da realidade. Não assistimos a filmes com o intuito único de conhecer a realidade. Talvez seja mais para fugir dela, ou conhecê-la de uma maneira diferente do convencional.

Alguns críticos apontam o cinema como um tipo de mídia "artificial", "manipulativa" e que leva muitas vezes a "interpretação errônea da realidade". Para eles, esta "fábrica de fantasia" oferece alienação à sociedade.

Com todo o respeito aos críticos, há pessoas suficientemente conscientes e bem formadas que não se deixam "iludir" pela "fábrica de sonhos". É preciso enxergar o cinema também como arte e entretenimento, além de importante elemento provocador de valiosas reflexões. O fato é que o real e o imaginário se fundem peculiar e maravilhosamente bem nesta inusitada janela da vida.

Alisson Diego

6 comentários:

Unknown disse...

Excelente crônica.

Eu vejo o cinema como uma fonte de aprendizado para a vida. Vai de quem assiste. Algumas pessoas assistem, entra pelos olhos e sai pelos ouvidos. Eu já procuro tirar uma lição, seja ela qual for, de todo filme que assisto. Sempre que me pedem indicação de filmes, sem cair no clichê, indico aqueles que ficaram na berlinda, que não "estouraram" nem ganharam Oscar. Mas que trazem profundas lições(para quem enxergar).
- O Casamento de Muriel
- Stand by Me
- Melhor Impossível
- Pequena Miss Sunshine
- Domésticas, o filme
- A Partilha, o filme
- O Diabo Veste Prada (não é um filme de moda, mas de comportamento e vida)

E um que eu recomendo sempre, dado os tempos modernos e a necessidade que temos de nos adaptar sempre a diferentes situaçõe e/ou pessoas, é ZELIG, do diretor e ator Woody Allen.

Abraços

Redação / Alisson Diego disse...

Olá Carlos! Obrigado pela valiosa contribuição. Agradeço também às indicações. Alguns desses filmes já assisti, outros não, e esses já tomei nota aqui.Abraços.

RCEM disse...

Ótimo texto rapaz...

Estou precisando fazer isso.
Mas confesso que concomitantemente ao atual ritmo de vida pessoal e profissional, é impossível. Terei que aproveitar um período sabático para me dedicar ao estudo e deleite da sétima arte.

Parabéns!

Unknown disse...

É COM UMA PERCEPÇÃO MAIS OUSADA, QUE VEMOS FUNDIR EM NÓS UMA CULTURA QUESTIONÁVEL EM RELAÇÃO A ARTE VISUAL, DEIXANDO QUE O CINEMA NOS LEVA À OUTRA DIMENSÃO!
PARABÉNS, ISSO É UM EXEMPLO A SEGUIR, COM OBJETIVO DE CONHECIMENTO OU ATÉ MESMO DE AUTO-CRÍTICA!!!

marli disse...

Adorei seu blog.Parabéns!

Redação / Alisson Diego disse...

Compartilho comentário a este artigo, enviado pelos amigos Francisco Rivero e Paula Bastos para o meu email.

Buen dia Diego,

Por favor he leido en tu blog este articulo y si tu le estima podrias incluirlo que te adjuntamos aqui en tu blog.

Un saludo

Francisco

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Na solidão compartilhada de uma sala de cinema, ao ver um filme se celebra uma espécie de comunhão de idéias, pensamentos, emoções de todo tipo.

A condição para assistir a uma projeção no Cinema está na disponibilidade daquelas pessoas que podem dispor de dinheiro para pagar o bilhete de entrada.

Porém como se chegou a isso hoje em dia?

Graças à sacrossanta potencia do marketing publicitário que precede uma produção cinematográfica, seja nacional ou estrangeira.

Um dos desafios que se apresenta a todos os que de uma maneira ou de outra gostam de filmes é a possibilidade real de poder “VER” um filme de maneira individual, se se leva em conta a evolução dos meios técnicos disponíveis, como os suportes de reprodução que no passado eram traduzidos pelo vídeo, depois passaram a DVD e atualmente como uma “luz baixada” pelos serviços que a Internet proporciona.

Os critérios de seleção dos melhores filmes de um ano comercial estão relacionados ao bom ofício desses especialistas do mercado que nos seduzem e induzem a um puro individualismo no critério de seleção e apreciação.
Não tenho uma resposta sábia, nem muito menos autorizada, porém creio que este fórum apresentado por meu amigo Diego permitirá uma reflexão de como fazer o bem para uma melhor apreciação da produção cinematográfica.

Por último desejaria compartilhar uma experiência inesquecível e significativa que vivemos em Novembro passado em uma sala do Cine Glauber Rocha em Salvador. Foi durante uma das sequências do filme “Tropa de Elite II”, quando o protagonista, no papel de comissário, reage fortemente contra o corrupto deputado federal.

Gente. A reação do público foi inacreditável em sua expressão de apoio em viva voz de que era hora de acabar com a malandragem dos políticos corruptos no Brasil.

Aí pude compreender que a Sétima arte nos dá surpresas individuais e coletivas.

Gostaria de fazer uma menção a Glauber Rocha, lembrando nessa próxima segunda-feira se comemora o seu nascimento, que foi no dia 14 de março de 1938, em Vitória da Conquista, na Bahia. Declarava Glauber:

“o cinema não será uma máscara porque o cinema não faz a revolução: o cinema é um dos instrumentos revolucionários. A colonização ameaça continuar inclusive depois da revolução. A Fox, a Paramount, a Metro são nossos inimigos, necessitamos dos santos e orixás, há que negar a razão colonizadora e superar o moralismo dogmático que amesquinha os heróis”.

Saudações cordiais

Francisco Rivero & Paula Bastos